Inquebrantável
Na sala escura de um interrogatório virtual, onde apenas o brilho espectral das telas ilumina os rostos ocultos, um homem se posiciona diante de seus inquisidores. Ele não tem medo. Sua voz corta os dados pulsantes do ambiente digital, fluindo como um rio de fogo:
— Por isso, o Pai me ama, porque dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou (Jo 10, 17-18).
O silêncio é cortante. Os avatares hesitam. Em um universo onde tudo pode ser relativizado, como alguém ousa reivindicar algo absoluto?
Na rede mundial, onde informações são moldadas e filtradas, a história de um homem que veio para morrer soa como um erro de programação. Mas ele declara de maneira inegável:
— Eu não vim para ser servido, mas para servir e dar a minha vida em resgate por muitos (Mc 10, 45).
Nos algoritmos incessantes que tentam converter todas as crenças em uma só, essa afirmação permanece um código inquebrantável. Quem é esse que não se encaixa nas equações das religiões humanas? Que não pode ser reduzido a um conceito genérico de moralidade?
Um dos inquisidores virtuais, enfim, se pronuncia, tentando refutar a singularidade daquele nome. Mas a voz do homem replica, firme:
— Está escrito que eu haveria de sofrer e ressuscitar dos mortos no terceiro dia (Lc 24, 46).
Como contestar isso? Se todas as verdades são relativas, por que tanto esforço para silenciar essa? O paradoxo é evidente: se ele é apenas mais um, por que sua palavra desafia tanto os algoritmos da era digital?
Nos arquivos ocultos das profundezas da rede, um dado é irrefutável. Desde as arenas romanas até os becos sombrios do século 21, seus seguidores escolhem morrer em vez de negar sua fé. Um deles, há séculos, perante as autoridades, bradou:
— Estou sendo julgado pela esperança da ressurreição dos mortos (At 23, 6).
Perante governadores e reis, insistiu que essa esperança não é uma ilusão, mas um fato inquestionável (At 24, 15; 26, 6-8). O que faz com que, na era da inteligência artificial e da replicação digital, ainda haja aqueles que prefiram desaparecer da história a negar esse homem?
Na sala virtual, o debate se intensifica. O homem expõe a maior falha nos sistemas de pensamento contemporâneos: a tentativa de dissolver a identidade dele na poeira das ideologias. Mas ele permanece inigualável. Ele ressuscitou. E a ressurreição não é uma metáfora conveniente, mas um evento que altera a estrutura da realidade (1Co 15). O código-mestre do universo foi reescrito, um dado que nenhuma IA ou sistema de aprendizado de máquina pode processar sem corromper sua própria lógica. Ele transcende o tempo e a matéria.
Quando a conexão cai e as telas se apagam, uma certeza permanece. Em um mundo onde tudo pode ser desconstruído, há uma verdade que resiste: ele não pode ser reduzido. E assim como no passado, o preço por reconhecê-lo ainda é alto. Mas aqueles que conhecem a ressurreição não temem os algoritmos nem as sombras que tentam obscurecer sua luz.
Pois ele vive. E ninguém pode apagar o que está escrito desde a eternidade