Onde se Apaga a Luz?
Em um recanto esquecido da vasta teia digital, onde fóruns se perdiam em labirintos de bytes e salas de bate-papo ecoavam com fantasmas de conversas passadas, dois vultos se encontraram. Um, envolto em um brilho tênue, irradiava uma calma profunda; o outro, envolto em sombras, exalava um ar de mistério e melancolia. Sophia e Agnos, seus nomes, não eram meras alcunhas, mas a própria essência de suas almas.
— Agnos, por que teimas em negar a luz que reside em cada byte? — perguntou Sophia, a voz suave como um murmúrio de vento.
— Sophia, falas de esperança em um mundo afogado em dados e ilusões. Não vês a futilidade de buscar conhecimento nesse caos? — respondeu Agnos, a voz grave e rouca, como o ranger de engrenagens antigas.
Em meio ao turbilhão de informações, a busca por sentido parece uma vã tentativa em um mar de aleatoriedade, pensou Agnos.
— Salomão já advertia: Na muita sabedoria há muito enfado; quem aumenta o saber aumenta a dor (Ec 1, 18). — As palavras do rei ecoavam em sua mente como um mantra niilista.
— Paulo considerava tudo como perda pelo conhecimento de Cristo (Fp 3, 8). Deus nos concede sabedoria e revelação para conhecê-lo (Ef 1, 17), e devemos viver dignamente desse conhecimento (Cl 1, 8-10) — disse Sophia, com convicção.
— Ilusões! O conhecimento é uma armadilha. Quanto mais se busca, mais se vê a vastidão da ignorância. E essa percepção é a maior das dores — retrucou Agnos.
Às vezes, a busca me leva a lugares sombrios, onde dúvida e desespero se escondem nas sombras, refletiu Agnos.
— A dor é parte da jornada, mas não o destino. O conhecimento nos aproxima da verdade, e a verdade liberta (Jo 8, 32) — ponderou Sophia.
— Que verdade? A da nossa insignificância em um universo vasto e indiferente? — questionou Agnos.
— A do amor que nos criou e sustenta. O amor que se manifesta em cada detalhe da criação, da menor partícula à maior galáxia — explicou Sophia.
Agnos silenciou por um momento, como se as palavras de Sophia tocassem uma corda sensível em seu ser.
— E quando a luz se apaga? — perguntou ele, a voz quase inaudível.
— A luz nunca se apaga completamente. Transforma-se, adapta-se, revela-se de maneiras inesperadas — respondeu Sophia.
Existe luz no fim do túnel, ou a escuridão é a única realidade que me espera?, Agnos se perguntou.
— Não se engane, Sophia. A escuridão é o destino de todos. O esquecimento eterno, o silêncio — afirmou Agnos, sombrio.
— Enquanto houver um coração que busca a luz, a escuridão jamais vencerá — declarou Sophia, com esperança.
De repente, a tela piscou e Agnos se desvaneceu em pixels, como uma estrela cadente que se apaga no céu digital. Sophia ficou olhando para o espaço vazio, o brilho do monitor refletindo em seus olhos, que se enchiam de uma tristeza silenciosa. Uma lágrima solitária escorreu pela sua face enquanto ela sussurrava: — Que a luz te guie, irmão.
E, enquanto a noite digital se aprofundava, Sophia permaneceu ali, uma chama solitária tremeluzindo em meio à imensidão da rede, uma sentinela da esperança, esperando o dia em que a escuridão, finalmente, se renderia à sua luz.